Novos manicômios com Velhas formas de prender
Lendo a reportagem: "Em SP, remoções psiquiátricas são feitas sem laudo médico ou fiscalização", de Daniel Lisboa, colaborador da TAB uol, não consigo identificar meu sentimento. Misto de indignação, raiva e principalmente vergonha. Sinto vergonha por ser psiquiatra em um sistema de tratamento que ainda acredita que trancar é tratar. Não generalizando, porém ainda sim afirmando, vivemos em uma sociedade sem paciência e vontade de cuidar e não apenas "lidar" com as pessoas que sofrem com transtornos mentais. Como psiquiatra de um CAPS em meu município, observo diariamente, e muitas vezes ao dia, a dificuldade dos familiares em compreenderem as vivencias dos pacientes com sofrimento mental. Não acredito ser uma convivência fácil em muitas situações, podendo realmente ser muito estressante para os familiares a vida diária, porém, a prisão realmente será a saída? " Se incomoda, então não serve para viver em sociedade?" Voltaremos a época onde os manicômios eram depósitos de corpos semi nus que caminhavam ao leo sem rumo e sem razão?
Mas então para dependentes químicos pode!
Todos os dias ao entrar na casa do PROAD da Escola Paulista de Medicina, onde fiz meu estágio de dependência química na residência, eu ligo uma placa que estava na recepção: O oposto de dependência não é abstinência e sim LIBERDADE.
Li todos os dias que por ali passei por admirar e acreditar nessa frase. Ser livre para ESCOLHER como viver e quando necessitar de ajuda por falta de discernimento, ainda sim ter a oportunidade de escolha do tratamento.
Internações involuntárias, onde o paciente não escolheu sua forma de tratamento e muitas nem se quer tem crítica quanto a necessidade dele, são ineficaz e muitas vezes aumentam a revolta e a procura pela substancia no mesmo dia que recebem alta hospitalar, quando não fogem antes deste dia.
Ligou, Internou!
Na reportagem onde são citadas várias clínicas onde apenas uma ligação telefônica é necessária para a busca e apreensão de "quem não está bem", fica a inquietação e medo de uma simples briga de casal ou qualquer desajuste familiar ser fácil de resolver. Basta uma ligação e ter dinheiro para pagar a conta da prisão, que o carro chega e leva o familiar problema. Quero acreditar, realmente sou sonhadora, que não teria colegas médicos, e principalmente psiquiatras envolvidos nisso, mas ao mesmo tempo, imagino essas pessoas que deveriam estar sendo cuidadas, tratadas, sem nenhum auxílio em casas ou como chamam: comunidades terapêuticas e penso na necessidade de ter alguém para ajudar na permanência nesta prisão.
Não fará nenhuma diferença minha opinião neste Blog pessoal, e não é este o objetivo deste canal, porém não conseguiria ler tal barbaridade e simplesmente deitar e dormir...
Gratidão